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MPPE apura caso de intolerância
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MPPE apura caso de intolerância
Queixa foi acatada pelo MP por estimular preconceito que, aos olhos do ministério, é crime
"Ontem por volta das 20h, eu e meu afilhado de Jurema Henrique Falcão estávamos dentro da Estação Xambá (TI) para pegar o ônibus TI Xambá Encruzilhada, pois íamos visitar a nossa casa de axé o Ilé Iyemojá Ògúnté, que fica em Água Fria/Recife.Ao entrarmos no ônibus, um vendedor ambulante iniciou um discurso aparentemente extrovertido para vender açaí... Contudo, ele, o tempo inteiro ficou reafirmando ser pertencente a Igreja Assembléia de Deus (pelo que entendi). Após identificar que eu era um "macumbeiro", comecou a fazer o tétrico discurso evangélico de baixa estirpe se direcionando à mim. Falando com arrogância que conhecia a verdade e havia encontrado a luz, pois havia desistido de ser um "umbandista" e que conhecia tudo "dessas religiões", tentando provar isso, afirmou que sabia que tinha "um grande terreiro de Macumba" por detrás daquela estação de ônibus (o Terreiro Xambá) comandado por "um negão pai de chiqueiro" se referia obviamente ao querido e importante babalorixá Ivo de Xambá.
Quando ouvi tamanho absurdo racista e intolerante me rebelei imediatamente falando: pai de chiqueiro nada, ele é um babalorixá, um sacerdote de respeito! Respeite a religião dos outros, por que eu sou um juremeiro, catimbozeiro, macumbeiro e candomblecista com muito orgulho e exijo respeito comigo e com minha religião (em voz estridente).
Continuei: você é um ignorante racista e que desrespeita até os princípios de sua religião que diz que não deves julgar, portanto estais em pecado e vai pro inferno devido a sua falta de respeito para com os seus "irmãos"! E que devido a esta sua atitude ignorante e racista você se demonstra uma pessoa sem condições de refletir sobre absolutamente nada, e que este é o reflexo da má educação pública que embranquece as mentes e torna as pessoas vulneráveis a ideologias criminosas que não se justificam como esta sua (...).
Ele rebateu: "a verdade dói" e ironicamente ele pediu desculpas e continuou a reafirmar este pensamento, ignorando o que eu falei, abriu assuntos paralelos com "evangélicos" presentes no ônibus que obviamente o apoiaram e iniciaram gritos contra a minha fé "pregações de salvação"...
Rebati: afirmei que existem mais de dez mil religiões no mundo e questionei o por que só as dos evangélicos seria a certa, a única verdade ou que seria a religião que salvaria... E falei que este pensamento é falta de senso crítico que isso tem ligação direta com a situação política do país hoje, com Temer na presidência da República liderando um golpe antidemocrático sem precedente.
Daí, uma "evangelica" indignada falou que a crise econômica do país não a afetava por ela "ser de Jesus". Sugeri um breve reflexão e disse, a crise não lhe pega e você andando de TI Xambá, o que a deixou raivosa.
A esta altura do campeonato, os passageiros já estavam estressados com a briga de discursos em voz extremamente alta que estava acontecendo, e o ônibus não saiu do lugar até vir seguranças e fiscais da estação para mandar que nos retirássemos do ônibus. Óbvio que também os rebati dizendo que paguei a passagem e que eu ali era a pessoa que estava sendo violentada. Logo eles perceberam a situação e não insistiram, liberando a saída do ônibus para seu roteiro.
Imaginei que as coisas iriam se acalmar, porém outras mulheres "evangélicas" não só levantaram a voz de forma arrogante, como também levantaram de seus lugares e direcionando a palavra a mim afirmaram que: "a salvação era única, e que eu e meu afilhado iríamos "queimar no fogo". A partir disso, uma série de xingamentos vieram a tona por parte deles contra mim como: "víbora do inferno, iluminatti do satanás, espírito sem luz, amaldiçoados" dentre outros, como se pode perceber neste vídeo que não representa nem 10% de toda essa odisseia repugnante do racismo e da intolerância religiosa.
Não satisfeito, o vendedor me desafiou a entrar em conflito físico com ele. Afirmando que não seria possível tocá-lo por ele ser "filho de Jesus". Ficou exaltadissimo querendo briga e eu falei que não era necessário aquilo, por que eu discuto argumentos e nao precisaria de atos rudes para a resolução de meus problemas. Ele se manteve provocando até a hora de sua descida.
A viagem só teve paz praticamente quando desci. Onde fui surpreendido por uma evangélica que em um momento de lucidez veio até mim falar que o vendedor estava realmente errado e que não se pode julgar nem desrespeitar a religião dos outros. Os demais passageiros que não eram evangélicos ficaram todos do meu lado, concordando e expressando com falas, gritos, e olhares de apoio a situação que eu estava passando.
Por ironia do destino, quando voltamos para casa, pegamos o mesmo ônibus (TI Xambá - Encruzilhada), e a primeira coisa que ouvi ao subir no veículo foi "vai fazer show novamente?", daí percebi que havia pego o mesmo transporte com o mesmo motorista e a mesma cobradora... Daí respondi com segurança: Se eu me sentir ofendido novamente irei sim!
O que passei ontem, serve para refletirmos que devemos reagir contra a opressão dos racistas e intolerantes religiosos sempre. Nós não podemos nos calar perante os opressores, nosso silêncio e omissão não condiz com nosso histórico de resistência, e também esta mesma omissão outorga aos opressores o pensamento de que eles podem fazer o que quiserem contra nós sem que reajamos."
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) abrirá investigação para apurar práticas de intolerância religiosa ocorridas no Terminal Integrado Xambá, em Olinda, Grande Recife. O órgão tem até 30 dias para concluir o caso. A denúncia foi oferecida na última quinta-feira (16) pela vítima, Alexandre L’omi L’odò, seguidor da Jurema Sagrada, uma religião de matriz indígena e africana.
A queixa foi acatada pelo MP por estimular o preconceito o que, aos olhos do ministério, é crime. Quem está à frente do caso é o Promotor de Transporte da Capital, Humberto Graça.
Alexandre L’omi L’odò contou que os atos de intolerância começaram após o ambulante, que é evangélico, ver o colar da vítima. Ele carrega o Signo Salomão que, na Jurema Sagrada, representa a estrela de Malunguinho. “Foi aí que comecei a ouvir ironias. Não me calei, claro. Daí, ouvi de tudo, desde que era filho do satanás, seguidor das trevas”. Ele contou que o ápice da confusão veio quando o homem insultou o Pai Ivo de Xambá e criticou os adeptos da religião.
“Pelo pouco que vi, já constatei irregularidades que vão além da intolerância religiosa. E como ele fez, de forma preconceituosa, pode ir também à esfera criminal”, adiantou o promotor Graça. O caso ocorreu no último dia 9, mas a denúncia foi oferecida na última quinta.
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